Serenela Moreira

Serenela Moreira — 19 de outubro de 2020

Entrevista com Roberto Oliveira

Roberto Oliveira é professor de matemática há mais de 30 anos. Na internet desde 2000, a pegada digital do professor de Matemática do Funchal está bem marcada, mas os mais adeptos do papel podem também encontrar os exercícios de Roberto em qualquer livraria, já que é autor de vários livros de preparação para os testes e exames nacionais do ensino secundário.
Hoje aproveitamos para descobrir um pouco mais sobre a história da página Situações Matemáticas e da sua experiência enquanto professor.

Quando decidiu ser professor de Matemática e porquê?

Entrei para o curso em 86, 87. Era um aluno que gostava de matemática. Curiosamente, nem sempre gostei de todos os meus professores de Matemática, mas gostava da disciplina. Acabado o 12º ano, decidi tirar Ensino da Matemática. Enquanto terminava o curso comecei a dar aulas logo ao 11.º ano, que implicava já algum estudo aprofundado. A partir do quinto ano fiz o estágio e já vou no meu 32.º ano enquanto professor de Matemática.

Podemos dizer que é um “dinossauro” da internet, já criou a página em 2000, já lá vão 20 anos. O que o levou, na altura, a entrar no mundo digital, acredito que bem diferente do que é hoje?

A internet estava na moda e havia pouca coisa de matemática. Na altura a minha página tinha várias rubricas, inclusive sobre personagens importantes da história da matemática. Outras rubricas incluíam exercícios em que era necessário detetar o erro; ou passagens de matemática nos livros e romances, que continuo, mas agora no Facebook. A página foi ficando porque tinha muita gente que me dizia que gostava dos meus testes e fichas.

Então cria muitas das perguntas dos seus testes?

Dos meus testes, sou eu que crio tudo. Por isso quando faço um teste começo semanas antes, a imaginar as perguntas. Vou fazendo o teste aos poucos, até porque tenho de o resolver e ver se é adequado.
Até há quatro ou cinco anos colocava, em todos os testes, pelo menos uma passagem com matemática de algum livro que tinha lido (e depois imaginava uma questão). Esses testes ainda se encontram online.

Como é que tem as ideias para criar as questões?

Depende, é a inspiração do momento. Geralmente esta inspiração surge de madrugada, quando eu acordo cedo e não consigo dormir. Mas nem sempre os alunos gostam dos exercícios quando estou mais inspirado (risos).
Às vezes tenho um furo na escola e fico a imaginar exercícios. Por exemplo, no ano passado, a propósito dos Campeonatos Mundiais de Atletismo, e porque vi uma notícia na televisão sobre as 26 medalhas da atleta Allyson Felix, fiz uma questão de Cálculo Combinatório sobre este tema. Também uso exemplos dos alunos, na minha escola os alunos de 12.° ano reuniram o ano passado em comissão de finalistas de 5 elementos, logo imaginei uma questão com os 350 alunos que iam fazer grupos para a comissão.

Página online do professor Roberto Oliveira

E como surgiu a iniciativa de publicar os livros?

Como havia muita gente que gostava dos meus testes, vendia, na net, desde 2004 sebentas com os meus exercícios, e com resoluções de todas as questões. Em 2011 surgiu a oportunidade, pela Texto Editores, de criar um livro de apoio escolar. E era um livro diferente dos outros porque tinha a resolução de todos os exercícios, que na altura era uma novidade. Entretanto já fiz 3 livros de cada ano do secundário e também fui colaborando com outros autores.

Sente que ainda há um medo pela matemática ou que isso é cada vez mais um mito?

Atualmente já muito professores tem bons conhecimentos científicos e uma boa pedagogia. Maus alunos ainda existem, mas a maior parte dos alunos já tenta minimamente e consegue acompanhar bem. Claro que a matéria também está mais acessível, quando era aluno nem calculadora científica podíamos usar. As coisas estão mais facilitadas, é verdade, mas também mais apelativas. Não vale a pena pôr os alunos a decorar fórmulas. Decorar para quê? O importante é que eles percebam. E nós damos as aulas com tecnologia e os alunos preferem assim, claro.

Quando diz tecnologia, fala por exemplo dos kahoots que podemos encontrar na sua página?

Sim. Comecei no ano passado e a intenção é fazer em cada turma uma vez por mês. Mas nem sempre a internet na escola funciona da melhor forma. Os alunos gostam e é uma atividade engraçada, que os pode beneficiar na avaliação.

Qual é a melhor memória que tem enquanto professor de Matemática?

Devo ter várias boas e más memórias. Lembro-me de há uns 5 anos… O Nilton tinha vindo fazer um espetáculo e eu fui assistir e gostei. Então decidi fazer um exercício no teste sobre o número de pessoas que veio assistir e os lugares sentados. Houve um aluno meu que resolveu partilhar esse teste na página do Nilton no Facebook e ele respondeu. Achei engraçado, até porque depois as pessoas tentaram resolver o exercício.

O que seria se não fosse professor de matemática?

Algo ligado a informática, programação. Na altura gostava de programar no computador Spectrum nos finais dos anos 80, fazer alguns jogos simples. Mas acabei por ser professor de Matemática. Tem os seus altos e baixos, mas uma grande vantagem é trabalharmos com jovens, e isso é muito bom. Estar com eles na escola, ver na cara de um aluno que está contente quando percebeu a aula.