Léo Solé

Léo Solé — 28 de agosto de 2020

Porque existem dois botões redondos na calculadora?

Quando projetámos o teclado da calculadora NumWorks, queríamos algo novo. Testámos imensas versões diferentes, eliminando em cada uma os pontos fracos das versões anteriores.

Qual é o ponto de partida para desenhar um teclado?

Logo no início, a ideia de projetar uma nova calculadora gráfica a partir do zero levou-nos a uma chuva de ideias cada vez mais radicais: o extremo foi o de criar um modelo com apenas duas teclas!

No entanto, as calculadoras gráficas têm de cumprir determinados padrões aos quais não podíamos fugir: cerca de 50 teclas, um ecrã por cima delas, etc., para que possa ser reconhecida à primeira vista. Não queríamos que um aluno se preocupasse num dia de exame porque um professor vigilante não reconhecia o aparelho.

O que queríamos acima de tudo era criar um objeto que fosse imediatamente familiar assim que alguém lhe pegasse. Uma interface intuitiva que ao mesmo tempo evitasse erros e perda de tempo.

Os objetos a que estamos habituados são os mais fáceis de usar?

Começámos por fazer uma lista de todos os objetos que os alunos estão habituados a usar quando entram no secundário: smartphone, computador, televisão, tablet…

No entanto, os objetos que estamos habituados a usar não são necessariamente os mais intuitivos. Pensemos num microondas: há dois botões apenas, que podem ser usados para mudar o modo, definir a hora ou iniciar e parar o programa. Em suma, uma interface completamente contraintuitiva!

Para criar uma ferramenta intuitiva não basta, portanto, identificar objetos conhecidos e transpor a sua interface para novos equipamentos. Especialmente porque uma calculadora gráfica é um objeto singular e técnico.

As nossas experiências

Percebemos desde o início que era impossível separar o layout do teclado da interface no ecrã: as ações de controlo das teclas do teclado e os menus que realmente vão aparecer no ecrã. Claro que íamos precisar de teclas numéricas. Claro que íamos precisar de teclas de “operações de cálculo”. Mas como vai ser a interface? Se quiser mover uma parte selecionada no ecrã, precisa de uma tecla para tal.

A primeira versão que testámos incluía uma tecla de confirmação (enter), uma tecla de apagar (backspace) e uma tecla “mágica” para efetuar ações especiais descritas no ecrã (como no seguinte exemplo).

A tecla mágica

Pontos fortes: além de ser bastante evidente que ações se realizam, as teclas de enter e backspace parecem ser indispensáveis ao funcionamento da interface.

Pontos fracos: a tecla “mágica” é uma tecla contextual e executa uma ação diferente dependendo de onde o utilizador está na interface. Não só é contraintuitivo, como não permitiria generalizar o funcionamento da interface.

A segunda versão, totalmente diferente, descartou as duas teclas de confirmação e backspace e usou apenas quatro teclas contextuais para aceder às opções descritas na parte inferior do ecrã.

As quatro teclas contextuais

Pontos fortes: as ações executadas por cada tecla são claras.

Pontos fracos: algumas ações não podem ser descritas através de palavras curtas e devem ser abreviadas na parte inferior do ecrã. Para uma ferramenta técnica como uma calculadora gráfica e priorizando a compreensão do aluno, não nos podíamos dar ao luxo de abreviar tais palavras.

O que há de interessante nesta versão: Ao desenhar um gráfico, como neste exemplo, notamos que existem várias vistas possíveis de um mesmo objeto: a expressão da função a ser desenhada, o gráfico da função e a sua tabela de valores. Esta observação levou-nos a considerar a possibilidade de centrar o funcionamento da interface em torno de diferentes separadores.

Depois de muitas tentativas, encontrámos uma versão mais alinhada com os nossos objetivos de simplicidade!

A versão final

Neste exemplo, vemos os diferentes separadores no topo do ecrã e as duas teclas identificadas como necessárias na primeira versão: OK e BACK. Achámos importante que a área de navegação do teclado fosse claramente delineada para facilitar a utilização do aparelho.

Nesta área de navegação foram adicionadas duas teclas, incluindo o botão de alimentação, que muitas vezes está escondido no meio do teclado noutros modelos, embora seja a primeira tecla a ser pressionada pelo utilizador.

O teclado NumWorks

Então mas porquê dois botões redondos?

Todas as teclas do teclado têm uma forma oblonga: um retângulo que termina em dois semicírculos. Para distinguir a área de navegação, cada tecla na parte superior do teclado foi diferenciada através da forma ou cor. As teclas HOME e POWER são amarela e preta, respetivamente, enquanto as teclas OK e BACK têm uma forma diferente, a de um círculo, que remete para a nossa inspiração: as consolas de jogos.

Léo Solé
Léo Solé — Gestor de Produto

O Léo estudou na École Centrale Paris* (Mestrado em Aeronáutica e Espaço) e juntou-se à equipa da NumWorks em março de 2016 como Gestor de Produto. O objetivo do Léo é o de criar a melhor calculadora para o ensino secundário e a sua principal missão é definir como é que as equipas técnicas podem implementar as suas ideias. Quando não está a sonhar com a calculadora do amanhã, o Léo dedica-se à sua outra paixão: o cinema :)

*A École Centrale Paris era uma das mais prestigiadas escolas de engenharia francesas, agora chamada de CentraleSupélec após a fusão com Supélec, outra reconhecida escola da área.